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Tomada de Posição da Assembleia Municipal de Odemira, “Pelo Desenvolvimento Sustentável de Odemira”

11 Maio 2021

Tomada de Posição da Assembleia de Municipal de Odemira, intitulada “Pelo Desenvolvimento Sustentável de Odemira”, aprovada por unanimidade em reunião extraordinária realizada no dia 9 de maio de 2021.

 1. INTRODUÇÃO

A situação mediatizada nos últimos dias em Odemira, veio demonstrar o que os órgãos municipais tinham razão, pois vinham afirmando e alertando ao longo dos últimos anos - através de inúmeras tomadas de posição e moções aprovadas - da necessidade urgente do Estado Português intervir neste território.

Aquilo que muitos apelidam de “um desastre anunciado”, é fruto de um ordenamento territorial deficitário, só possível face a um Plano de Ordenamento do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina permissivo e desde sempre contestado pelos órgãos municipais.

A presente Tomada de Posição vincula a Assembleia Municipal de Odemira, pois é o órgão que a aprova, mas sentimos que esta reflete a posição de grande parte dos atores locais aqui sedeados, auscultados em várias reuniões, fóruns, debates ou formalizadas em documentos públicos e correspondência recebida.

Em face do enquadramento descrito, torna-se necessário encontrar um caminho de futuro que a todos inclua, realize e responsabilize!

Nesse sentido, consideramos essencial, como há muito reivindicamos, que Pelo Desenvolvimento Sustentável de Odemira, sejam desenvolvidas, de forma concertada, 5 dimensões do desafio que nos é colocado! Essas 5 dimensões são:
1. Dimensão Ordenamento do Território;
2. Dimensão Habitação;
3. Dimensão Recursos Hídricos
4. Dimensão Serviços Públicos;
5. Dimensão Infraestruturas e Equipamentos Públicos.

2. ENQUADRAMENTO
A evolução da Pandemia de Covid-19 no concelho de Odemira e a recente aplicação de cerca sanitária às freguesias de S. Teotónio e Longueira/Almograve deu visibilidade à gravidade de problemas locais, levando o Primeiro-Ministro António Costa a afirmar…“[É preciso] quebrar essa sobrelotação [de pessoas a viverem no mesmo espaço] porque é um risco enorme para a saúde pública, para além de uma violação gritante dos Direitos Humanos”.

Estavam os eleitos locais indiferentes a esta matéria? Não, pois desde há muito que os órgãos autárquicos têm analisado e debatido em sessões e reuniões ordinárias e extraordinárias, a génese e os impactos do desordenamento, incúria e cultura do facilitismo que a administração central permitiu numa vasta área deste território, incluindo toda a faixa litoral do Concelho de Odemira, onde o poder central usurpou todas as competências por diversos dos seus departamentos (ambiente e agricultura no epicentro), os quais trabalham de ”costas voltadas” e sem articulação, contando com o Município, apenas e só, quando dá jeito.

Foi este o cenário de longos anos, “ora mandas tu, ora mando eu”, e conforme as “modas” lá foi vingando um modelo de incongruências centrado no contributo para o PIB Nacional, a qualquer custo, num Parque Natural e em Rede Natura 2000.

Os Órgãos Autárquicos Locais por diversas vezes e de diferentes formas, deram conhecimento tendo proposto a todos os níveis e instâncias do poder e da investigação, a tomada de medidas urgentes, que compatibilizassem os usos, os valores e os recursos locais, no âmbito de um processo de desenvolvimento sustentável em detrimento da aposta no crescimento desregulado.

Ignorando estes apelos locais, o mundo lá continuou a vir para Odemira, tendo-se assistido em poucos anos, à maior de todas as vagas migrantes na região, especialmente com passaporte asiático, esgotando a oferta de alojamento, em muitos casos com sobrelotação e hiperlotação, uma ténue fiscalização, degradação das respostas de serviços e de equipamentos públicos, um fluxo que proporcionou o aparecimento de atividades ilícitas graves, atualmente sob investigação.

Na última década, o tecido social alterou-se, e não obstante sabermos que o concelho vinha em alguma perda populacional e que sempre fomos um concelho multicultural, Odemira não pode ser o único lugar do país a acolher um fluxo migratória de expressão tão significativa num curto espaço temporal, quase duplicando a população, até porque não estão criadas as condições locais para o fazer, e desde há muito o demos a conhecer.

Poderá o governo alhear-se desta realidade com origem bem conhecida, resultante de um modelo territorial e económico insustentável, impositivo e decidido em Lisboa desde sempre, em que os Odemirenses pouco foram considerados, gerador de conflitos e facilitismos? Não, até porque desta realidade tem conhecimento, pois desde há quase uma década que os órgãos autárquicos e a comunicação social, têm evidenciado os atropelos ao ordenamento do território, que a IGAMAOT relatou na sua inspeção realizada em 2016/2017, cujo relatório, homologado em 2018, conclui pela urgência na tomada de dezenas de medidas recomendadas a diversas entidades da administração central, que não foram concretizadas, e por outro lado, o SEF, a ACT, a PJ e a GNR conhecem a situação que se vive em Odemira, e que certamente relataram superiormente.

Na ordem do dia, tem estado também a gestão de recursos, pois há que monitorizar e preservar a biodiversidade local e por outro lado garantir que a água da barragem de Santa Clara, não sendo infinita e face ao intenso acréscimo de utilizações e diminuição de afluências, tenha gestão adequada, e que a sua falta não venha a ser o próximo cenário de desgraça local, se não forem tomadas medidas resilientes.

Vitimas de todo este processo, e no contexto atual, os migrantes que sonham com um futuro melhor e que procuram em Odemira trabalhar e ser felizes merecem tudo do melhor, devendo cada um, à medida das suas responsabilidades, assumir a colaboração possível, e tudo fazer para que a situação atual se altere rapidamente, conscientes que os Portugueses foram e ainda são um povo emigrante e que devem receber bem, não apenas quem nos visita, mas também quem cá trabalha e vive.

Não podemos deixar estas pessoas, à espera que apenas um desastre como o que agora experimentámos as tornem visíveis, mas também não devem ficar mais uma vez na gaveta os problemas que estão na génese do modelo de crescimento sem limites e regulação.

Odemira, quer e deve ser um concelho com a sua própria identidade, singularidade e diversidade nas atividades e no seu padrão social, ao nosso ritmo e de forma ordenada e planeada!

3. MEDIDAS ESTRUTURAIS

Assim constituem-se como essenciais a tomada das seguintes medidas por parte do Governo de Portugal:
1. Revisão imediata da Resolução do Conselho de Ministros 179/19, de 24 de outubro de 2019;
2. A tomada de Medidas Preventivas urgentes no âmbito do Plano de Ordenamento do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, nomeadamente no que concerne a ações claramente identificadas no relatório do IGAMAOT;
3. A criação de um Programa Específico de Habitação para o Território que obrigue a uma nova política de distribuição e integração em todo o território de Odemira, libertando a sobrecarga das freguesias do litoral do concelho;
4. A elaboração, com carácter urgente, do Plano de Gestão, Eficiência e Resiliência da Albufeira de Santa Clara em face do próprio cenário de escassez de água elencando na última Assembleia Geral da Associação de Beneficiários do Mira;
5. A criação do Plano de Intervenção Económica e Social para o Concelho de Odemira que vise a dotação dos serviços públicos e plano de investimentos para fazer face às necessidades de infraestruturas de apoio às populações.
6. Recomendar que se apurem os responsáveis, desde os angariadores de mão-de-obra até aos proprietários, pelo incumprimento da legislação laboral e ambiental em vigor, punindo os prevaricadores e todos os que lucrem à custa da violação das leis, pondo em risco a saúde pública.
7. Criação de um Gabinete Local de Ação Operacional no concelho de Odemira com todas as entidades presentes no território, nomeadamente ACT, SEF, Saúde, ICNF e representantes dos cidadãos locais.

4. MEDIDAS DE COMBATE À PANDEMIA

Constituem-se ainda como essenciais a tomada das seguintes medidas por parte do Governo de Portugal, para resolução urgente da situação pandémica vivida em Odemira:
1. Decretar o fim imediato da cerca sanitária às freguesias de São Teotónio e Longueira/Almograve face ao acentuado decréscimo dos índices de infeção nestas freguesias e no concelho, penalizadas pelo cálculo deficiente desses mesmos índices;
2. Tomada de medidas imediatas de combate à sobrelotação e insalubridade de habitações,
com a responsabilização dos empregadores inclusive.
3. A integração imediata no cálculo dos índices de infeção de indicadores de imunidade e carga no SNS;
4. A vacinação urgente de toda a população;

5. NOTA FINAL

Consideramos absolutamente essencial que a presente Tomada de Posição da Assembleia Municipal de Odemira seja atendida, contribuindo de forma decisiva para o desenvolvimento sustentável do concelho e do país e para a saúde, bem-estar e a qualidade de vida dos residentes permanentes e temporários deste concelho, empenhados que estamos em vencer os desafios que hoje se nos colocam!

A presente Tomada de Posição será remetida:
-Presidente da República
-Presidente da Assembleia da República
-Primeiro Ministro
- Grupos Parlamentares na Assembleia da República
- Ministra de Estado e da Presidência
-Ministro da Administração Interna
-Ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital
-Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social
-Ministro do Ambiente e da Ação Climática
-Ministra da Agricultura
- Ministro das Infraestruturas e da Habitação
-Ministra da Coesão Territorial
-Assembleia Intermunicipal da CIMAL
-Presidente da CIMAL
-CCDR Alentejo – Coordenador do Grupo de Trabalho do Mira
-IGAMAOT
- Autoridade para as Condições do Trabalho
- Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
- Alto Comissariado para as Migrações
-Municípios e Assembleias Municipais da área do PNSACV
-Meios de Comunicação Social nacionais e regionais.
-Anafre e Associação Nacional de Municípios.

Odemira, 9 de maio de 2021
Os Eleitos da Assembleia Municipal de Odemira